sábado, 22 de agosto de 2009

Atlético - Campeão Paranaense de 1945

Depois de 1944, que foi um ano frustrante (fizemos ótima campanha, mas não conseguimos manter a regularidade e pra encerrar, na última rodada, vencemos os coxas e demos o título de bandeja para o Ferroviário), ninguém podia imaginar o que estava por vir. Em toda minha vida, lembro de poucas decisões tão emocionantes como aquela. Até hoje me arrepio de lembrar daqueles atletibas. É uma destas coisas que ficam na memória e na retina da gente pela vida toda
No começo da temporada, o time rubro-negro passou por umas mudanças. Algumas peças foram trocadas, outras substituídas, mas a base ainda era o time campeão de 1943. E isso nos dava confiança suficiente para acreditarmos que o título era possível. E os ajustes na equipe foram perfeitos. A base de 43 facilitou o entrosamento do time, principalmente do ataque. Foram 42 gols em 15 partidas, uma média impressionante. Mas na minha memória e acho que, na de todos, que viveram aquela época, toda que vez se que se fala no campeonato de 45, o que vem à mente são os Atletibas. O resto parece não ter existido.
O Atlético passou o primeiro turno invicto, soberano, parecia imbatível. E mantivemos a força avassaladora no returno também. Chegamos à última rodada sem nenhuma derrota, bastava vencer e o campeonato acabava. Mas, por estas coisas sobrenaturais inexplicáveis, perdemos a última partida. Justamente para o Coritiba. Fomos vice do returno e eles ficaram com o título. Hoje, posso confessar: houve momentos em que lembrei de 44. Será que a história podia se repetir? Tendo tudo pra sermos campeões, íamos deixar a conquista escapar por uma distraçãozinha?
A derrota nos obrigou a ir para a melhor de três contra o próprio Coritiba. Isso definiria o novo campeão. A primeira partida foi no estádio Belfort Duarte. O Atlético contou com o reforço de Caju, que mesmo convocado para a Seleção Brasileira, foi liberado para atuar nas finais do Paranaense. E Caju foi essencial. O rival jogou melhor, bombardeou nosso gol e só conseguiu fazer 2 a 1. Não fosse Caju e aquela tarde poderia ser uma tragédia. Chegaram a dizer que nosso atletas não tinhas resistência para suportar uma partida aguerrida como aquela.
O segundo confronto foi na Baixada. Quanta diferença! Em trinta minutos, o Atlético fez três gols com Guará, Cireno e Lilo. No entanto, o árbitro Cuka, ex-jogador do Coritiba, resolveu complicar a vida do rubro-negro, quando viu a goleada instalada. Marcou um pênalti para o Coritiba, que gerou a revolta dos atletas atleticanos e, por conseqüência, a desconcentração de todos. Na cobrança da penalidade, Babi marcou o gol. O Coritiba cresceu e marcou outros dois gols com Neno: 3 a 3.
Ufa! Que sufoco aquilo. Mas o terceiro gol deles despertou nosso time novamente. Reagimos e Guará, sempre oportunista, marcou nosso quarto gol. Eles não se deram por vencidos e empataram de novo, com outro gol de Neno. O jogo era de enlouquecer, eletrizante, mas muito nervoso! Faltando poucos minutos, o zagueiro Lauro meteu a mão na bola, na meia-lua da grande área coxa-branca. Uma falta na cara do gol, uma chance açucarada de passar à frente mais uma vez e provar que nós éramos os melhores. Todo mundo em campo discute, a barreira vai se formando aos poucos dentro da área, enquanto Cireno ajeita a bola... Ajeita e cobra.
Acho que até aquele dia nunca havia vibrado tanto. Se alguém me perguntasse o que melhor simboliza a minha paixão pelo Atlético, eu diria que é aquela emoção. Pode até ser que ela seja a mesma que eu vivi tantas vezes depois, mas o estado de viva plenitude que experimentei daquela primeira vez, é algo de que eu jamais vou me esquecer. Naqueles poucos segundos em que a bola viajou rumo ao gol da vitória, um vazio tomou conta de mim. Foi como se a vida me abandonasse naqueles instantes e só voltasse ao ver a rede balançando. Era gol do Atlético, era o gol da vitória! Gritei como um louco, pulei como nunca, abracei todos que eu conhecia e até alguns quem eu nunca vi.Quanta alegria! Depois, foi só esperar o fim do jogo e festejar mais ainda. Mas os adversários não se conformaram. A vitória atleticana provocou a fúria dos torcedores e jogadores rivais, que acabaram depredando a cerca da Baixada.
Com uma vitória do Coritiba e a outra do Atlético, a decisão foi para uma terceira partida, em que nenhuma das equipes tinha vantagem. Caso houvesse empate, a decisão seria prorrogada até que se instalasse o vencedor da partida. Por causa dos acontecimentos da segunda partida, foi pedido um árbitro paulista para apitar o jogo e o local foi definido por sorteio. O estádio do Coritiba acabou sendo o palco da terceira partida.
Foi um jogo mais fechado, com ambas as equipes lutando muito, brigando pela bola em todos os cantos do gramado. Sem gols na primeira etapa, Lilo abriu o placar para o Rubro-Negro, aos 24 minutos do segundo-tempo, e Neno empatou para o Coritiba logo depois. Apesar de muita luta, das várias oportunidades criadas, o placar não mudou até o fim do tempo regulamentar. A decisão seria na prorrogação.
Nos primeiros minutos, já se via que a movimentação dos jogadores não era mais a mesma. Todos estavam cansados, a técnica quase desparecera e o que o cérebro arquitetava o corpo já não podia executar. A disputa se transformou, então, numa questão de brios, de luta, de valentia e de amor à camisa. Nessa hora, o equilíbrio do confronto rendeu-se à mística rubro-negra. A histórica raça atleticana entrou em campo como se fosse um novo jogador. E, aos oito minutos, Xavier marcou o gol da vitória atleticana.
Atlético Campeão Paranaense de 1945. Aquela foi, sem dúvida, uma das conquistas mais marcantes e emocionantes de toda a história do Atlético.

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