quinta-feira, 2 de julho de 2009

Atlético - Bicampeão Paranaense de 1983

Depois de acabar com o longo jejum de 12 anos, o Furacão começou a temporada de 1983 soprando forte e assustando os adversários. Fizemos uma campanha magnífica no Campeonato Brasileiro, conquistamos o terceiro lugar e por muito pouco não chegamos a uma inédita final do Brasileirão. Chegou então a hora de tentar mais um bicampeonato. Só havíamos conseguido o feito no biênio 29/30, há mais de 50 anos. Apesar das várias mudanças na equipe que havia levantado o título no ano anterior, chegamos ao estadual como favoritos. Já não tínhamos os imbatíveis Assis e Washington, nem o goleiro Roberto Costa, vencedor da Bola de Ouro, como o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, recém-encerrado, mas alguns reforços importantes chegaram e, em campo, o novo time mostrou ser herdeiro de toda a raça atleticana.
O campeonato foi disputado em dois turnos, com muitos jogos e, apesar de não ter terminado na liderança em nenhum dos dois quadrangulares classificatórios, o Atlético fez uma boa campanha e conseguiu uma vaga no quadragular decisivo pelo índice técnico. Coritiba e Londrina levavam um ponto de bonificação por trem vencido os turnos iniciais. Rivais de ofício, Atlético e Coritiba terminaram empatados com oito pontos cada e prorrogaram a decisão. Mais duas partidas para saber quem seria o campeão.
O primeiro jogo foi no dia 15 de Dezembro, no Couto Pereira lotado. O Atlético fez uma grande partida, envolveu o adversário alviverde, resistiu bravamente aos momentos de pressão e conseguiu vencer por 1 a 0. O gol atleticano foi marcado pelo jovem Joel, de apenas 21 anos, que começava a se tornar o herói da campanha atleticana. Durante os três dias que separavam as duas partidas, o assunto em Curitiba era exclusivamente a decisão. De um lado, a confiança dos atleticanos em conseguir ao menos um empate na grande final; do outro, a esperança de que o segundo jogo poderia ser diferente.
No domingo, dia 18, a ansiedade dos atleticanos era incontida. Eu mesmo não consegui dormir direito à noite. Enquanto isso, a equipe descansava num hotel na Cidade Industrial. Soube depois pela imprensa que o predestinado Joel fora o primeiro a acordar, pouco antes das nove da manhã; e que Ivair despertou às 10h00, com o telefonema de Assis, campeão de 82 pelo Rubro-Negro e que iria se tornar um dos maiores ídolos da história do Fluminense. O ex-meia do Atletico ligou para desejar boa sorte ao amigo.
Naquela tarde, cheguei cedo ao estádio. Lá estávamos nós, novamente no Couto Pereira, quando vi nossos craques saírem para o gramado. Caminharam pelo gramado, vieram até nós e acenaram para a massa atleticana. Ainda era cedo, faltava mais de uma hora e meia para começar o jogo, mas consegui conter a emoção conversando, cantando nos hinos e comendo uns amendoins.
Quando Joel deu a saída na bola, meu coração bateu mais forte. Começamos melhor, mesmo jogando com muita cautela, já que um empate nos assegurava o Bi. Perdemos algumas oportunidades, mas mantivemos nossa meta segura, sem correr grandes riscos. No segundo tempo, a partida seguiu disputadadíssima, mas o Coxa voltou melhor e atacava mais. O Atlético parecia acuado e cedia à pressão verde, o goleiro Rafael já havia mostrado todas as armas de seus arsenal, impedindo o gol do adversário em pelo menos duas oportunidades. Mas, aos 19, o Atlético finalmente foi à frente. Cândido cobrou o lateral na esquerda do nosso ataque. Jorge Luis recebeu, ajeitou a bola e cruzou do bico da grande área. A bola cruzou toda a frente do gol coxa-branca. Entre dois zagueiros, Joel subiu e mais uma vez desferiu outra de suas cabeçadas indefensáveis. Estávamos com uma mão na taça.
O Couto Pereira ficou ainda mais vermelho e preto, a euforia tomou conta de todos na arquibancada. Estávamos a 26 minutos de comemorar o segundo bicampeonato da história do Atlético. Em campo, a equipe passou a administrar a vantagem, mas equipe Coxa se recuperou do golpe e voltou a pressionar. Na marca dos 30, Rafael subiu na bola cruzada e rebateu. A bola sobrou para o alvi-verde Elísio, que bateu à direita de Rafael e empatou a partida: 1 a 1. Daí em diante a aflição tomou conta de mim. Pouco me lembro do que aconteceu no resto do jogo, sei que Binga saiu do banco e quase fez o segundo pra gente. Eu já olhava mais no relógio que para o campo, quando sobrevivi ao maior de todos os meus sustos. Depois de uma cobrança de falta, houve um rebote e a bola sobrou livre na cara do nosso gol. Alguém de branco chutou, mas a bola foi pra fora, mesmo com o gol escancarado. Respirei aliviado, faltava pouco, já não havia mais tempo para quase nada. Enquanto o tempo se esvaia, passei a rezar e, então, o apito final devolveu-me à vida e pude saborear mais uma vez a indescritível emoção da vitória. E a nação Rubro-Negra pode comemorar o segundo Bicampeonato da história do Furacão.
A loucura atleticana foi tamanha que muitos jogadores tiveram que sair correndo para os vestiários. Cristóvão havia prometido a camisa ao pai e conseguiu chegar vestido, mas Joel, o herói das finais chegou só de sunga e contou numa entrevista que, para sair de campo com a peça, teve que brigar com uma moça que queria deixar rapaz completamente nu. Dizem que depois que todos deixaram o vestiário, a torcida entrou lá e levou tudo que havia sobrado como lembrança. Não restaram sequer as velas acessas diante da imagem de Nossa Senhora da Salete, a Santa Padroeira do Atlético.

Nenhum comentário: