sexta-feira, 12 de junho de 2009

Washington - Coração Valente


Poucos jogadores se transformaram em ídolos em tão pouco tempo e conquistaram tantos torcedores na história do Atlético como o atacante Washington, que fez de 2004 o ano da superação. Ao lado de artilheiros consagrados como Sicupira, Jackson, Cireno, Oséas e Paulo Rink, o “Coração Valente” assinalou nada menos que 44 gols em 49 jogos com a camisa do Atlético. Um verdadeiro fenômeno dentro de campo, cuja imagem batendo no peito, sob o coração e o símbolo do Furacão, ainda permanece viva na mente de muitos torcedores.
Natural de Brasília, Washington Stecanela Cerqueira começou sua carreira no Brasília, atuando nas categorias de base. Sempre marcando muitos gols, o jogador passou pelo Caxias e despertou interesse do Internacional, para onde se transferiu. Sua passagem pelo Colorado não foi muito boa e, no ano seguinte, recebeu uma chance no Grêmio. Porém, algumas contusões atrapalharam seu desempenho e o jogador voltou para o Caxias. Washington voltou a obter sucesso em 1999, quando foi emprestado ao Paraná Clube. Mas foi na Ponte Preta, em 2001, que o atacante brilhou e fez o clube viver a sua melhor fase, virando o grande ídolo da torcida. Marcou 93 gols em 106 jogos. E foi lá que Washington começou a se destacar no cenário esportivo, se consagrando como artilheiro do Campeonato Paulista (16 gols em 16 jogos) e da Copa do Brasil (11 gols em 8 jogos), ambos em 2001. Tamanho destaque lhe rendeu a Chuteira de Prata da Revista Placar pelo seu desempenho no Campeonato Brasileiro do mesmo ano e a participação nas Eliminatórias da Copa do Mundo, pela Seleção Brasileira de Futebol. Logo depois, o atleta foi chamado novamente para vestir a amarelinha na Copa das Confederações, onde marcou dois gols.
Em 2002, o atacante foi negociado com o Fenerbahçe, da Turquia, sendo recebido com muita festa e carinho pelos torcedores. Não demorou muito e o matador já começou a mostrar seu faro de gol: em poucos jogos, já era o vice-artilheiro do campeonato turco. Porém, em novembro daquele ano, Washington começou a sentir uma queimação no peito durante alguns treinos. Na ocasião, médicos responsáveis pelo atendimento ao atleta disseram que o pronto-atendimento tinha evitado um mal maior. Washington chegou ao hospital sentindo fortes dores no peito e os primeiros exames apontaram uma lesão na artéria esquerda do coração. O jogador foi operado e passou os primeiros meses em recuperação. Mesmo assim, a direção do Fenerbahçe o procurou para acertar a redução de seu salário e o jogador resolveu voltar a trabalhar no Brasil. Em maio de 2003, o atacante foi apresentado como reforço do Atlético para o Campeonato Brasileiro, que apostou no jogador.
Porém, dezenove dias depois de chegar a Curitiba, Washington foi reprovado nos exames cardíacos, que o impediram de assinar contrato com o clube. Apesar de não fazer parte oficialmente do elenco, o Atlético disponibilizou toda a estrutura do CT do Caju e o corpo médico para acompanhar a recuperação do centroavante. Foi então que o jogador, após a apresentação, submeteu-se ao delicado exame de cateterismo (espécie de intervenção cirúrgica para diagnosticar problemas coronários), recebeu orientações para evitar exercícios forçados e sugestões de caminhadas. Ainda em maio de 2003, uma junta médica especialmente constituída para avaliar o atleta vetou a contratação do jogador. Apesar disso, um dia depois, Washington decidiu seguir o tratamento orientado pelo Dr. Constantino Costantini.
Seis meses depois, quando ele completava 365 dias desde a sua operação, Washington já estava treinando com o time B do Atlético, participando dos treinos coletivos e até marcando gols. Mas a boa notícia veio dali um mês: exames realizados no atleta comprovaram que ele estava totalmente liberado para a prática esportiva. Era o fim de um sofrimento de mais de um ano.
Sua força de vontade e perseverança bastaram para que o Atlético apostasse no jogador. “Em três segundos ele me convenceu de que se recuperaria. Ele disse: 'presidente, eu quebrei as duas pernas e disseram que eu não voltaria a jogar. Eu disse que ia e voltei. Depois eu tive diabetes e falaram a mesma coisa e eu voltei. Agora, o coração. Mas eu vou voltar a jogar'. Assim, com uma força de vontade dessas, não tem quem não acredite”, revelou o presidente do Conselho Deliberativo, Mário Celso Petraglia.
E foi no dia 8 de fevereiro de 2004 que milhares de torcedores presentes na Arena da Baixada, numa partida contra o Paraná Clube, presenciaram um dos mais emocionantes momentos de toda a história do estádio. Washington marcou o primeiro gol da partida, foi abraçado no centro do gramado por todos os companheiros e teve o seu nome gritado pela torcida, que aplaudiu de pé a superação de Washington. Ali tinha voltado o jogador, o atacante, o goleador, o artilheiro. A torcida, que já não via um centroavante nato desde as saídas de Kleber e Alex Mineiro, vibrava junto com Washington a cada gol marcado. Seu gesto, batendo com o a mão direita no coração, virou sua marca registrada e foi repetido 44 vezes.
Fora de campo, ele já havia dado mostras suficientes de que merecia o respeito do torcedor. A superação de obstáculos de Washington foi um exemplo de vida. Sua caminhada começou no Campeonato Paranaense, quando assinalou 10 gols e ficou com a vice-artilharia. Depois, o jogador primeiro se tornou o maior artilheiro atleticano em Brasileiros numa só edição, ultrapassando Kleber e Alex Mineiro com 17 gols cada um, em 2001. Em seguida, escreveu seu nome na história do futebol brasileiro e se consagrou como o maior artilheiro em todas as edições do Campeonato Brasileiro, marcando 34 gols. Tal recorde lhe rendeu a Chuteira de Ouro pela Revista Placar; o título de “Personalidade do ano” pelo Jornal do Brasil; foi eleito o melhor jogador de 2004 pelos internautas da Furacao.com , com 43,2% da preferência; se consagrou como o terceiro maior artilheiro do mundo pela Federação Internacional de Futebol e Estatísticas do Futebol e o quarto maior goleador da história da Arena.
Um verdadeiro matador, que nos fez acreditar que tudo é possível. Sua relação com a torcida atleticana ultrapassou os limites do gramado, esbanjando simpatia, carinho e atenção. Exemplo de superação e perseverança, Washington foi muito mais que um jogador dentro de campo. Foi campeão da vida.
Depois de ser artilheiro do Campeonato Brasileiro pelo Atlético, Washington recebeu diversas propostas excelentes financeiramente. Aceitou a do Verdy Tóquio e seguiu para o Japão. Seu clube foi rebaixado na temporada de 2005, mas o artilheiro continuou na J-League, transferindo-se para o Urawa Red Diamonds.

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